sábado, 13 de fevereiro de 2016

Crônica – Rubens Alves

Rubens Alves um dos maiores pensadores brasileiros faleceu em 2014 deixando uma obra importante para literatura brasileira. Reproduzimos, como forma de homenagem, um dos seus textos que circulam mormente pela internet.

O rei vai nu


Havia um rei muito tolo que adorava roupas bonitas. Os tolos, geralmente, gostam de roupas bonitas. Pois este rei enviava emissários por todo o país com a missão de comprar roupas diferentes. Os seus guarda-roupas estavam cheios de fatos, sapatos e gravatas de todas as cores e estilos. Eram tantas as suas roupas que ele estava muito triste porque os seus emissários já não encontravam novidades.
Dois espertalhões ouviram falar do gosto do rei por roupas e viram nisso uma oportunidade de enriquecer à custa da vaidade de sua Majestade. Foram até ao palácio e apresentaram-se como «especialistas em tecidos mágicos».
O rei já tinha ouvido falar de tecidos de todos os tipos, mas nunca ouvira falar de tecidos mágicos. Ficou curioso. Ordenou que os homens fossem trazidos à sua presença.
Falem-me do tecido mágico.Um dos espertalhões, o mais loquaz, disse:
Majestade, diferente de todos os tecidos comuns, o tecido que nós tecemos é mágico, porque somente as pessoas inteligentes podem vê-lo.O rei ficou encantado e contratou-os imediatamente, oferecendo-lhes um amplo aposento onde poderiam montar os seus teares e tecer o tecido que só os inteligentes poderiam ver.
Passados alguns dias, o rei mandou chamar um ministro e ordenou-lhe que fosse examinar o tecido. O ministro dirigiu-se ao aposento onde os tecelões trabalhavam.
Veja, excelência, a beleza do tecido, – disseram eles com a mãos estendidas. O ministro não viu coisa alguma e entrou em pânico: «Meu Deus,» pensou. «Se não vejo o tecido, sou estúpido...» Resolveu, então, fazer de conta que era inteligente e começou a elogiar o tecido como sendo o mais belo que tinha visto.«Majestade», relatou o ministro ao rei, «o tecido é incomparável, maravilhoso. De facto, os tecelões são verdadeiros magos!»
O rei ficou muito feliz.
E o mesmo relatório foi feito por todos os outros ministros. Até que o rei resolveu ir pessoalmente ver o tecido. Mas, como os ministros, ele não viu coisa alguma, porque nada havia para ver e pensou: «Os ministros viram. São inteligentes. Mas eu não vejo nada! Sou estúpido. Não posso deixar que eles saibam da minha burrice, porque pode ser que tal conhecimento venha a desestabilizar o meu governo...» O rei, então, entregou-se a elogios entusiasmados ao tecido que não existia.
O cerimonial do palácio determinou que deveria haver uma grande festa para que todos vissem o rei nas suas novas roupas. E todos ficaram a saber que somente as pessoas inteligentes as veriam. Todos os cidadãos inteligentes foram convidados para comparecerem à solenidade.

No Dia da Pátria, a cidade engalanada, bandeiras por todos os lados, bandas de música, as ruas cheias, tocaram os clarins e ouviu-se uma voz, que anunciou: «Cidadãos do nosso país! Dentro de poucos instantes, a vossa inteligência será colocada à prova. O rei vai desfilar usando a roupa que só os inteligentes podem ver.» Canhões dispararam uma salva de seis tiros. Rufaram os tambores. Abriram-se os portões do palácio e o rei marchou vestido com a sua roupa nova. Foi aqueleoh! de espanto. Todos ficaram maravilhados. Como era linda a roupa do rei! 

Todos eram inteligentes. No alto de uma árvore estava empoleirado um menino a quem não haviam explicado as propriedades mágicas da roupa do rei... Ele olhou, não viu roupa nenhuma, viu o rei nu exibindo sua enorme barriga, as suas nádegas murchas e vergonhas dependuradas. Ficou horrorizado e não se conteve. Deu um grito que a multidão inteira ouviu: «O rei vai nu!» Silêncio profundo. E uma gargalhada mais ruidosa que a salva de artilharia. Todos gritavam enquanto riam: «O rei vai nu, o rei vai nu...»

O rei tratou de tapar as vergonhas com as mãos e correu para dentro do palácio.
Quanto aos espertalhões, já estavam longe e haviam transferido os milhões que tinham ganho para um paraíso fiscal.


História original de Hans Christian Andersen.
Versão adaptada de Rubem Alves. Ilustrações de O’Kif. (cópia)

Aspectos da Comercialização de Produtos Agroextrativistas

Aspectos da Comercialização de Produtos Agroextrativistas[1]


Este artigo é uma análise resultante da observação e prática das ações de comercialização de micro, pequenos e médios empreendimentos, principalmente aqueles sediados na Amazônia Legal.

No contexto amazônico, no quesito “negócios sustentáveis”, a maioria dos empreendimentos é de pequeno porte notadamente impelidos ou estimulados a fornecer para mercados consumidores de matéria-prima mais dinâmicos. Assim, temos de um lado uma cadeia de fornecimento que com inúmeras deficiências, seja da ordem organizacional, produtiva e financeira. De outro, uma conjunto de empresas dispostas a atuarem dentro dos padrões clássicos de compra e venda.  Para conciliar esses dois pólos é necessário promover a organização interna, reestruturação setorial e, principalmente, arranjos produtivos locais para aumentar a oferta de produtos, melhorar processos produtivos com acréscimo de qualidade e diminuir custos de produção, aumentar as possibilidades de parcerias com a distribuição, garantir estabilidade do fornecimento, deixando espaço para criação de marcas próprias – com identidade regional, local -, constituição de mecanismos de financiamento da produção e beneficiamento.

Além disso, outras ações indiretas podem colaborar para obter resultados positivos. Uma dessas ações é o aumento da capacidade dos atores sociais envolvido de influenciarem na definição de políticas públicas.

Nesse enfoque, alguns produtos são mais dependentes dessas ações para se consolidarem no mercado. A Castanha da Amazônia necessita de articulação de vários pequenos e médios empreendimentos para atender o mínimo dos pedidos do mercado interno. Mesmo que se caminhe na direção da industrialização no território de origem da matéria prima, devido a interdependência, torna-se vital o consórcio econômico para a agregação de valor, pois a produtos mais elaborados tais como biscoitos, farinha ou óleo prescinde da especialização dos atores econômicos da cadeia produtiva.

A piscicultura comercial e empresarial abre espaço para o surgimento de outros setores produtivos, tais como: o couro de peixe e ração para animais que são possíveis com planejamento de um arranjo produtivo local e com foco na estruturação econômica e produtiva (construção de tanques, frigoríficos, produção de ração e alevinos).

As polpas de frutas – originárias principalmente de SAF’s - sucos e concentrados que necessitam de métodos de tecnológicos de conservação para preservar as características físico-químicas, o que nem sempre é possível ou viável para pequena escala de produção, logo para lograr sucesso, os empreendedores devem atuar em complementaridade com outras empresas, em geral maiores e com capilaridade nacional, num sistema cooperativado ou sistema de redes de comercialização.

As novas tecnologias de exploração e beneficiamento local necessitam uma maior articulada de modo a envolver elementos de pesquisa, assistência técnica e extensão rural como é caso do látex natural que além da organização dos produtores em torno de suas entidades pressionam as organizações a mudarem internamente que, por sua vez, levam-nas a solicitarem apoio de outras organizações que tenham tecnologia, conhecimento ou acesso aos novos produtos.

Em outros casos (cacau e guaraná orgânico), os arranjos produtivos podem simplesmente representar a organização de pequenos produtores para obtenção de escala, volume e certificação orgânica a fim de atender uma determinada ou determinadas demandas empresariais, que do mesmo modo, dependem da atuação de outras instituições que compõem o “agronegócio florestal”.

De modo geral, trata-se de desafios que os produtos do agro-extrativismo tradicionalmente produzidos e ofertados enfrentam. Contudo, caminhar no rumo da viabilização da oferta de produtos procurados, mas ainda não ofertados em quantidade e qualidade suficiente tais como, sementes para biojóias, óleos vegetais, plantas medicinais fibras para artesanato, madeira certificada de comunidades é um desafio atual. Neste aspecto, investimentos em manejo sustentável, certificação florestal e capacitação das comunidades agro-extrativista torna-se fundamentais para se alcançar efetividade de qualquer plano de expansão da oferta de produtos florestais.


Análise de mercado para os produtos “estrelas” da Amazônia.

1. Frutas Frescas e Polpas de Fruta

Principais produtos: Cupuaçu, Açaí, Bacuri, Graviola, Uxi, Camu-camu,, taperebá.

Mercado: Estabilizado para os empreendimentos que dispõem de condições mínimas para atingir mercados nacionais, notadamente o sudeste e nordeste brasileiro, os demais empreendimentos atendem mercados locais embora possam atingir novos mercados se investimentos em ativos fixos forem realizados, grande, baixo valor agregado, organizado e ávido por novidades á medida que surgem possíveis investidores interessados em transformar essas frutas em bebidas isotônicas, refrigerantes, sorvetes e etc. 

Desafios: Produção com qualidade e produtividade, pois as áreas de plantio de espécies amazônicas se tornou possíveis nos estados do sudeste e nordeste por meio da tecnificação da agricultura, criação de um “consórcio” que certifique a origem do produto como amazônico a fim de diferenciá-lo no mercado, cadeia de frio organizada e distribuição.


2. Madeiras com certificação social e ambiental do FSC ou objeto de manejo sustentável comunitário

Produtos: Aproximadamente 80 espécies, tanto de terra firme quanto de várzea, incluindo Jatobá, Mogno, Cedro, Freijó, Samauma, Paricá, Tatajuba, Massaranduba, Aquariquara, Cumaru, Cerejeira (Torresia Acreana), Tauari, Virola, etc.

Mercado: Demanda pelo produto tem crescido tanto para atender o mercado interno quanto para o mercado externo, a  industria de produção de bens finais busca essa matéria prima para produzir principalmente móveis e casas, o mercado é promissor tanto para empreendimentos de grande quanto de pequeno porte, alto valor agregado.

Desafios: Dificuldade de atingir a produção sustentável, competição de madeira predatória com preços aviltados, o volume da produção de madeira certificada como manejo comunitário não apresenta condições de atender a demanda e  mercado políticas públicas desfavoráveis.

3. Farinhas

Produto: Mandioca (d'água), Pupunha, etc.

Mercado: Estabilizado, com clara tendência a regionalização sendo possível arranjar a produção da farinha amazônica em torno de uma identidade do produto visando aumentar valor agregado e aumentar a participação de vendas em outros mercados.

Desafios: Produção com qualidade, padronização, marketing, escala e distribuição.

4. Fibras, Cipós e Outros

Produtos: Piaçava, Arumã, Curauá, Cipó-titica, Jarina (marfim vegetal), Cebolão, Timbo-açu, Timbori, Graxama, Cipó-jipioca, etc

Mercado: Há procura por parte de artesãos e lojistas da região sudeste, principalmente os estados do Rio de Janeiro e São Paulo. Os preços da matéria prima são muitas vezes desconhecidos sendo estipulados a partir do confronto do comprador e fornecedor..
Alto valor agregado através de outros produtos.
Definir e atingir uma produção sustentável, entender fibras e cipós como uma linha de produtos passível de rentabilidade e sustentabilidade, treinamento para o beneficiamento e confecção de outros produtos.


5. Castanha-da-Amazônia (ou do Pará)

Produtos: Castanha inteira, com ou sem casca, ou picada

Mercado: Estabilizado, grande, procura concentrada no segundo semestre de cada ano e oferta maior no primeiro semestre, número grande de pequenos atravessadores.

Desafios: Eliminar intermediários desnecessários por meio de contratos de vendas de médio e longo prazo, parcerias e arranjos produtivos locais com cooperativas agroextrativistas  para ganhar escala e diminuir custos entre, principalmente de transporte, aumentar o beneficiamento local com vistas a agregação de valor e diminuição de contaminações com o excesso de manuseio e transporte e marketing.

6. Produtos Artesanais

Produtos: Vasos, cestarias, brinquedos, bijouterias e utensílios indígenas, artefatos em borracha, cerâmicas marajoaras, etc.

Mercado: Em crescimento, baixo valor, em geral os potenciais compradores estão sediados na região sudeste proprietários de lojas de produtos artesanais que em sua maioria desconhece a lógica de relacionamento com comunidades tradicionais e indígenas da Amazônia.

Desafios: Distribuição através de criação de espaços de comercialização coletiva e de múltiplos empreendimentos amazônicos, organização e produção constante.


7.Óleos essenciais e essências

Produtos: Aproximadamente 20 espécies, para usos cosméticos, medicinais e alimentícios, incluindo Copaiba, Andiroba, Cupuaçu, Babaçu, Castanha, Pimenta Longa, Pau-Rosa, etc.

Mercado: Receptivo por novos produto, mas oligopolizado que gera incerteza e insegurança para as comunidade produtoras embora o produto tenha alto valor agregado no local.

Desafios: Dificuldade em atingir a produção sustentável, melhora no beneficiamento e aproveitamento dos resíduos incorporando ou re-arranjado atores econômicos locais para produção de sub-produtos, melhor conhecimento das características organoléticas dos produtos, elasticidade, relacionamento entre comunitários e empresas compradoras.

8. Palmito Pupunha (cultivado), Açaí e em alguns casos Babaçu (manejados)

Mercado: Com variações de consumo ao longo do ano, pouco sensível à questão da origem amazônico, no caso do interno, o que difere um pouco no caso do externo.

Desafios: Produção sustentável, industrialização com qualidade, marketing adequado, formação de consórcios para venda do produto diminuindo, competição predatória com alta aceitação (jussara).

9. Peixes Ornamentais

Produto: Aproximadamente 40 espécies
Mercado: Consolidado e alto valor agregado, exportação.
Desafios:Produção sustentável, estruturação de negócios amazônicos com esse foco e logística, tráfico de espécies.

10. Plantas Ornamentais

Produto: Aproximadamente 60-80 espécies epífitas (bromélias, samambaias, orquídeas), philodendrum e árvores para paisagismo

Mercado: Estabilizado, com tendência ao crescimento. Grande,  alto valor agregado

Desafios: Produção sustentável, organização de empreendimentos amazônicos ou aglomerados de produtores para fornecer ao mercado, logística, certificação e distribuição.

11. Mel

Produto: Mel de abelha nativas ou africanas

Mercado: Grande em relação a oferta atual, estabilizado, baixo valor agregado, mas para o certificado como orgânico a agregação é alta. O mercado é extremamente sensível este produto quando certificado.

Desafios: Produção sustentável com abelhas nativas, estimulo e identificação de novos produtores para aumentar a oferta, marketing, certificação e distribuição.

12. Temperos, Aromas e Corantes

Produtos: Pimenta Cumaru, Açucena, Gergelim, Tucupi, Urucum, Cumaru de Cheiro, Cumacai, Apuí, Casca Preciosa, etc.

Mercado: Grande com abertura para novas utilidades do produto (artesanato, medicina, alimentação), alto valor agregado. Apesar de que o urucum e gergelim possuem fornecedores fora da região amazônica.

Produção:  Produção com qualidade e sustentável,organização de cadeias fornecedoras locais distribuição, desenvolvimento de novos produtos.

13. Guaraná Orgânico

Produto: Guaraná nativo em pó ou em barra.

Mercado: Grande e com concorrência com o guaraná produzido em áreas no nordeste (Bahia)  e com baixo valor agregado.

Desafios: Produção com qualidade e sustentável, certificação orgânica,arranjos produtivos locais para lançamento de novos produtos cuja matéria-prima seja o guaraná amazônico, distribuição e marketing.

14. Látex natural

Produtos: Borracha nativa bruta ou defumada, “Leite bruto” couro ecológico, FDL e Crepe.

Mercado: Em expansão, com demandas crescentes pelo couro ecológico e crepe visando o mercado da moda, atualmente grande em função da capacidade de oferta e distribuição dos produtores.

Desafios: Desenvolvimento de novas utilizações, beneficiamento local tanto no modo de produção tradicional quanto de novos modelos produtivos o que exige a organização da cadeia produtiva em função das determinantes de exploração exigidas pelos modelos de industrialização da matéria-prima, capacitação gerencial dos empreendimentos associativos e cooperativistas criação de nichos.

15. Princípios Ativos

Produtos: Pesquisa e/ou produção de princípios extraídos da biodiversidade amazônica (ex.: Beta-caroteno da pupunha, Vitamina C do Camu-camu, Pilocarpina do Jaborandi,  etc.)

Mercado: Grande, alto valor agregado.

Desafios: Pesquisa, organização dos produtores comunitários, produção sustentável, produção sintética,

Plantas Medicinais Pelo menos 650 espécies de valor farmacológico comprovado, incluindo Amor Crescido, Jaborandi, Babosa, Crajiru, Mulateiro, etc.

Mercado: Grande, alto valor agregado, estável no médio prazo.

Desafios: Orquestração da pesquisa, ensino exploração econômica da indústria e  produção sustentável, biopirataria, falta de arcabouço legal sustentável que defina os limites de poder e benefícios da jusante e à montante da cadeia produtiva.

16. Peixes – Piscicultura

Produtos: Pelo menos 20 espécies de valor comercial, incluindo Tambaqui, Pirapitinga, Matrinchã, Pirarucu, Filhote, Piraputanga, Curimatã, etc.

Mercado: Grande em relação à oferta atual, baixo valor agregado.

Desafios: Produção sustentável, políticas públicas que incentivem a piscicultura comercial e o consumo interno, qualidade do processo de armazenagem e beneficiamento e distribuição, competição predatória, rearranjos setoriais para aproveitamento dos dejetos para produção de outros bens (couro de peixes, rações) e, portanto, agregação de valor na base produtiva.

17. Cacau Orgânico

Produto: Cacau nativo

Mercado: Grande e com concorrência com o cacau produzido em áreas no nordeste (Bahia)  e com baixo valor agregado.

Desafios: Produção com qualidade e sustentável, certificação orgânica, arranjos produtivos locais, distribuição e marketing.


Prof. Erinaldo Barbosa da Silva








[1] Este texto foi produzido a partir da experiência do Projeto Balcão de Serviços para Negócios Sustentáveis da Amigos da Terra – Amazônia Brasileira.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Direitos Sociais Constitucionais








Previstos na Constituição Cidadão (nas palavras do deputado Ulissses Guimarães então presidente da Assembleia Nacional Constituinte) os direitos sociais representam, ainda uma meta a ser atingida pela Federação, e estão dispostos no Art. 6º da CF/88 que são a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados. 

Não significa que só cabe a poder público realizá-los, a participação da sociedade civil é importante nesse processo de construção da cidadania, eis aqui um dos marcos orientadores do Empresol.

Prof. Erinaldo Barbosa da Silva

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

ASSEMBLÉIA GERAL CONFORME A LEI COOPERATIVISTA 5.764 DE 16/12 DE 1971

ASSEMBLÉIA GERAL CONFORME A LEI COOPERATIVISTA 5.764 DE 16/12 DE 1971

A Assembleia Geral (AG) dos associados é, segundo o Art. 38 da Lei Cooperativista, 5.764/71, 'o órgão supremo da sociedade, dentro dos limites legais e estatutários, tendo poderes para decidir os negócios relativos ao objeto da sociedade e tomar as resoluções convenientes ao desenvolvimento e defesa desta, e suas deliberações vinculam a todos, ainda que ausentes ou discordantes'.
A prática aliada à legislação consolidou certos procedimentos a serem observados no planejamento, condução e realização de AG’s para que as mesmas transcorram de forma organizada, dando oportunidade a todos os associados de se manifestarem, apoiando ou discordando de proposições, execuções, projetos, planos, estruturas diretivas, modificações estatutárias, etc., enfim, decidindo os destinos das cooperativas, que devem ser geridas de acordo com a opinião e a vontade explícita da maioria dos associados.
1 Como preservar a democracia nas assembleias.
De acordo com a lei 5.764/71, as cooperativas realizam suas assembleias gerais ordinárias nos três meses subseqüentes ao término do exercício social, ou seja, de janeiro a março, em geral.
O evento é o ponto alto do exercício da democracia em uma cooperativa que, por si só, já representa uma forma democrática de organização de pessoas. É na assembléia que os cooperados debatem e influenciam diretamente, através do voto, as questões fundamentais da cooperativa. Portanto, para que o desejo dos cooperados seja de fato respeitado, é importante que a assembléia conte com grande participação do quadro social. O cooperado tem que se sentir parte de todo o processo também na hora da tomada de decisões, e não somente na hora de obedecê-las. Afinal, ele é dono da cooperativa.
Para que a democracia não seja desrespeitada, é necessário que a assembléia seja bem preparada. O primeiro passo é a convocação dos cooperados, que deve ser feita com, no mínimo, dez dias antes da realização da assembléia. O edital de convocação - que apresenta, detalhadamente, todos os itens que serão discutidos - deverá ser publicado em jornal e fixado nas dependências da cooperativa, nos locais mais frequentados pelos associados. Além disso, uma circular do edital deve ser distribuída aos cooperados. Caso um destes pontos não se cumpra, a assembléia pode ser anulada.
O quórum deve representar, na primeira hora, 2/3 dos associados da cooperativa. Se este número não for atingido, após o intervalo de uma hora a exigência é que estejam presentes a metade mais um dos associados. Se, ainda assim, o número não se completar, após uma hora a exigência cai para dez cooperados.
2 Assembleia: as regras de convocação.

É preciso prestar atenção em todas as etapas exigidas por lei e pelo estatuto da cooperativa.
A realização de uma assembléia envolve uma série de normas previstas em lei, que garantem a sua transparência e validade. Caso a legalidade da assembléia seja posta em dúvida, os cooperados devem saber como agir.  A convocação pode ser feita pelo presidente da cooperativa, por qualquer membro do órgão de administração ou do conselho fiscal. Os associados também podem solicitar a assembléia e, caso o órgão de administração não aceite a solicitação, 1/5 dos cooperados podem realizá-la, desde que cumpram as formalidades requeridas (mencionadas ontem na matéria 'Como preservar a democracia nas assembleias').
Na assembléia ordinária, as decisões sobre os pontos discutidos devem ser tomadas por, no mínimo, metade mais um dos associados, por meio do voto, que é único e intransferível, ou seja, não aceita representação de terceiros. Nas cooperativas singulares, cada membro tem direito a um voto, independentemente do número de cotas que possuir.


Caso haja insatisfação com a gestão da cooperativa, os cooperados podem, somente pela convocação de assembléia, pedir a mudança de dirigentes. Se a proposta for aceita, uma comissão provisória deve assumir e só poderá permanecer até o prazo máximo de 30 dias, quando outra eleição deve ser providenciada.  Em caso de erro, fraude, simulação ou qualquer ação que viole a Lei 5.764/71 ou o estatuto da cooperativa, a assembléia pode ser anulada, bem como as decisões nela tomadas. Isso ocorre por meio de uma ação judicial, que poderá ser feita em um prazo de até quatro anos, a partir da data da assembléia.
3 Assembleia: ordinária ou extraordinária?
Veja abaixo, as diferenças entre os dois tipos de assembléia geral.
Além das assembleias gerais ordinárias, que ocorrem entre os meses de janeiro e março, existem também as chamadas assembleias gerais extraordinárias, que podem se realizar em qualquer data e obedecem à certa urgência dos interesses da cooperativa.
De caráter corretivo, as extraordinárias acontecem quando, por algum motivo, assuntos importantes da sociedade cooperativa ficaram fora do planejamento feito na assembleia ordinária ou surgem ao longo do ano.
No entanto, é preciso que estejam claros os assuntos que são exclusivos de uma assembleia extraordinária: esses não podem ser discutidos, de forma alguma, na assembleia ordinária. São eles: reforma do estatuto; fusão, incorporação ou desmembramento da cooperativa; mudança do objeto da sociedade (finalidade, ramo, etc); dissolução voluntária da sociedade; nomeação e contas dos liquidantes, abertura de filiais, alienação de bens móveis e imóveis.
Nas ordinárias, deliberam-se o planejamento anual, a prestação de contas do órgão de administração (acompanhada do parecer do conselho fiscal), os relatórios da gestão, o balanço do ano, demonstrativos das sobras, eleição de componentes dos conselhos e fixação dos honorários. É importante ressaltar que, na prestação de contas e fixação do honorários, os membros do conselho de administração e fiscal ficam proibidos de votar.
O sistema de votação também apresenta algumas diferenças nos dois tipos de assembleias. A votação de maioria simples, ou seja, metade mais um dos cooperados, é aceita tanto na ordinária quanto na extraordinária, mas quando forem deliberados assuntos exclusivos da extraordinária, será necessário o voto de 2/3 dos associados presentes para validá-los.
Para que ambas as assembleias estejam de acordo com a Lei 5764/71 e com o estatuto da cooperativa, todos os pontos discutidos, quaisquer que sejam, devem estar detalhados no edital.
4 Os passos de uma assembleia geral.
É importante lembrar que, conforme a lei, as cooperativas só podem realizar suas assembleias ordinárias até o final de março.

Os assuntos deliberados numa assembléia ordinária são os referentes ao planejamento anual, à prestação de contas do órgão de administração, ao balanço do ano, aos demonstrativos das sobras, à eleição de componentes dos conselhos e à fixação dos honorários. Na realização da assembleia ordinária, deve-se atentar para o fato de que o Conselho Fiscal é renovado anualmente.
A convocação deve ser feita em, no mínimo, dez dias antes do dia marcado, através do edital, que detalha tudo o que será discutido e deliberado. A divulgação do edital deve acontecer de forma tríplice, ou seja, por meio de jornal, afixada nas dependências da cooperativa e por meio de circular enviada aos cooperados.
A votação de maioria simples (metade mais um) é aceita tanto na assembleia ordinária, quanto na extraordinária, mas quando forem deliberados os assuntos exclusivos da extraordinária, 2/3 ou 66,6% dos associados presentes têm que aprovar.
A ata é um documento formal que contém todas as decisões tomadas na assembleia. Deve ser assinada pelo número de cooperados que o estatuto da cooperativa determina.
5 Providências a serem tomadas após a realização de uma assembleia.
Logo após a realização da assembleia, além das atividades normais de finalização, é importante observar as exigências da Federação que é filiada e as exigências das Juntas Comerciais. É obrigatório o arquivamento na Junta Comercial de atos constitutivos, alterações de estatuto, eleição ou alteração do conselho de administração/diretoria, liquidação e dissolução de cooperativas.

Prof. Erinaldo Barbosa da Silva UFVJM/Diamantina.

Projeto de Extensão Cine Educação

As tecnologias modernas ligadas ao processo educacional têm facilitado o acesso à informação. Entretanto, nem sempre esta facilitação têm se constituído em apreensão do conhecimento ou desenvolvimento total do ser humano envolvido neste processo. Estas tecnologias estão estritamente ligadas às transformações sofridas pelo mundo do trabalho e pela sociedade em geral, impulsionadas pelos elementos da alta modernidade. O projeto de extensão tem por objetivo possibilitar o acesso de educandos - educadores do ensino médio e cursos universitários do município de Diamantina à produção cinematográfica de diferentes categorias e gêneros a fim de incrementar da prática educativa, tornando-a mais atrativa e prazerosa. A essência da metodologia adotada parte do princípio da utilização do cinema como instrumento facilitador do processo de ensino/aprendizagem, de modo que o projeto pretende auxiliar a compreensão de teorias/conceitos das disciplinas oficiais dos cursos das entidades envolvidas, bem como promover a discussão de temas da atualidade realizando mesas redondas com profissionais das áreas abordadas. O trabalho em questão consta, na sua vertente metodológica, da exibição de até dois filmes e documentários temáticos mensais, previamente escolhidos pela equipe de bolsistas/voluntários e com a participação de professores das instituições de ensino. Haja vista que, além de ser uma ferramenta de ligação entre educação e cultura, o cinema é expressão cultural da sociedade industrial e tecnológica contemporânea além de uma poderosa ferramenta para instrução e reflexão humana como instrumento pedagógico.





 Prof. Erinaldo Silva - Coordenador do Projeto de Extensão Cine Educação/UFVJM,

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Nota de Falecimento - Sindicalismo



Nota de Falecimento.

Recebemos a triste notícia do falecimento do companheiro Zequinha do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Diamantina em função de um acidente balístico. Zequinha colaborou fortemente na realização da I Feira Regional de Economia Solidária de Diamantina e no Dia G do Garimpeiro. É uma grande perda do sindicalismo regional.



Dia G - Garimpo da Areinha 2013

O MÉTODO COOPERATIVO APLICADO A ORGANIZAÇÃO DO QUADRO SOCIAL

O MÉTODO COOPERATIVO

O método adequado para a educação/capacitação cooperativista possibilita a participação do maior número possível de cooperados.  Ele respeita a pessoa humana, tornando-a sujeito e agente do processo. Não domestica, nem impõe, mas cria espaços para que todos debatam, analisem e cheguem à posição mais conveniente do grupo em relação ao assunto em pauta.
Para que isso possa ocorrer, é imprescindível que todos se sintam plenamente à vontade, sem constrangimentos. O local da reunião deve ser bem escolhido. È aconselhável que se opte por um local onde a comunidade costuma se reunir. Nesse sentido é sempre interessante consultar as lideranças locais. Se os participantes preferirem se reunir ao ar livre, não há restrições, só que exige do técnico ou do coordenador da reunião providências para que todos possam ouvir, falar e ver o que é abordado.
Alguns aspectos básicos devem ser observados para um procedimento metodológico correto, ou seja:
- Partir sempre de problemas, necessidades interesses, aspirações e potencialidades do público participante. Isso exige do técnico um processo permanente de pesquisa, que pode ser feita em contatos, visitas, reuniões, etc.
- Ordenar os assuntos acima levantados, juntando-os por afinidade e tirando todas as repetições, de forma que resultem em blocos homogêneos;
- Priorizar, com os participantes, os blocos homogêneos acima identificados, a partir das potencialidades do grupo para solucioná-los; A questão a ser colocada ao grupo é: quais desses problemas nós mesmos temos condições de resolver? Isso leva a uma análise mais aprofudada de cada problema, sua origem, sua dimensão atual e os malefícios que causa à coletividade; e
- Escolher, com os participantes, o primeiro problema a ser atacado, definindo conjuntamente uma estratégia de ação a curto, médio e longo prazos, envolvendo os próprios participantes na ação a ser desenvolvida. Essa ação deve prever os seguintes aspectos básicos:
- o que fazer?      - quem vai fazer?              - até quando?
No início não é bom sobrecarregar o grupo, pois primeiro ele precisa se organizar internamente e conquistar autoconfiança. O próprio grupo vai ampliando sua ação, na medida em que descobre o seu potencial.
Acompanhar a ação. As pessoas que assumem tarefas pela primeira vez, sentem muita insegurança. Deve-se dar apoio e estímulo, mas nunca substituí-la nas suas funções. É fazendo, que se aprende.
Revisar a ação. Esse é o momento para avaliar os acertos e as falhas, esclarecer as dúvidas, orientar sobre procedimentos e reencaminhar a ação, inclusive as próximas reuniões.
Registrar, em ata ou relatório, o que ocorreu em cada reunião, inclusive com lista dos participantes, para memória do grupo. Esse registro deve se limitar aos aspectos da reunião, sem entrar em mínimo detalhes;e
Marcar, com o grupo, a próxima reunião, definindo local e data, além do assunto a ser tratado.
A reunião é o principal instrumento de trabalho do técnico em educação/cooperativista e por isso ela será abordada sob diversos prismas:
A disposição da sala
Sugere-se que a sala seja organizada em forma de U, com cadeiras soltas e com visualização via quadros e flip-chart, etc
Infra-estrutura da sala
Cabe ao técnico ou coordenador da reunião tomar todas as providências para deixar a sala adequadamente preparada para o tipo de reunião a ser realizada.
A equipe de apoio
Além do coordenador, convém que haja uma pessoa para visualizar o que está sendo produzido pelo grupo, através de anotação de aspectos chaves da discussão, registrados, com pincel atômico, em folhas de “flip-chart” ou papel de parede. Antes e durante o processo acontecem ações individuais, através de contatos e visitas de técnicos, líderes ou qualquer membro da comunidade, cujas ações são úteis para:
- Comprometer e reforçar a participação no trabalho grupal;
- Viabilizar estratégias a serem desenvolvidas com os grupos;
- Reforçar o diagnóstico.

DIAGNÓSTICO DE INTERESSES E NECESSIDADES GRUPAIS

- O diagnóstico deve ser realizado com base na organização da comunidade ou do público envolvido (cooperados, familiares, dirigentes, técnicos e funcionários), para que estes participem de todas as etapas do processo de pesquisa;
- A realidade vai sendo diagnosticada no processo da sua transformação, mas há momentos específicos em que esse diagnóstico é sistematizado, para viabilizar o reencaminhamento de ações educativas. Nesse momento ele deve:
a) identificar as características sociais e econômicas, bem como as necessidades, interesses e potencialidades do público alvo em relação à cooperativa ou à comunidade;
b) reunir os dados que permitirão entender a história do público, suas ações, reações e intenções. Assim se permite ao técnico e ao público a melhor compreensão do momento para tomar a decisão de como agir; e
c) pautar-se no diálogo problematizador, ouvindo com atenção a todos e estimulando o raciocínio grupal (comportamento ativo).

OBSERVAÇÃO:

O diagnóstico da realidade pode ser falso quando:
- Não leva em consideração o potencial intelectual e moral dos cooperados;
- Usa os cooperados como simples informantes e não como agentes na transformação da sociedade e como produtores de um novo saber; e
- Não situa o planejamento e a execução/avaliação como processo único, que envolve permanentemente os cooperados, funcionários, técnicos e dirigentes da cooperativa.

Prof. Erinaldo Barbosa da Silva – UFVJM/Diamantina